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Beber água antes de dormir reduz o risco de enfarte?
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Beber água antes de dormir reduz o risco de enfarte?

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Quantos não são os remédios caseiros que passam de geração em geração? À semelhança das “mezinhas” naturais, há também hábitos e crenças com origem na “sabedoria popular”. Um deles dita que beber água antes de dormir reduz o risco de enfarte. A alegação é antiga. Mas será verdadeira? 

E o que é um enfarte? Quais são as consequências? É possível evitá-lo? Em declarações ao Viral, o cardiologista José Pedro Sousa esclarece todas as questões.

Beber água antes de dormir reduz o risco de enfarte?

Beber água antes de dormir reduz o risco de enfarte

“A resposta é um redondo não”. Quem o diz é José Pedro Sousa, médico especialista em cardiologia no Instituto Português de Oncologia do Porto Francisco Gentil e membro da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, quando questionado sobre se beber água antes de dormir reduz o risco de enfarte.

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Em declarações ao Viral, o especialista sublinha que “nenhuma sociedade médico-científica nacional ou internacional recomenda” a ingestão de água antes de dormir como forma de reduzir o risco de enfarte. Ou seja, esta ideia é um “relato popular anedótico, sem fundamento científico”.

Para José Pedro Sousa, a “base racional e a plausibilidade biológica” da associação entre beber água antes de dormir e a redução do risco de enfarte agudo do miocárdio são “de tal modo pobres” que uma investigação científica definitiva – o ensaio clínico aleatório e controlado – “não deve sequer ser considerada”.

Por outro lado, o consumo total de água é uma variável “mais importante e, por isso, mais estudada” do que o “padrão temporal do seu consumo”.

O médico exemplifica que, no caso da doença cardíaca coronária – “que é muitas vezes o substrato de base do enfarte agudo do miocárdio” -, o consumo de cinco ou mais copos de água por dia foi já associado a uma menor probabilidade de morte, em comparação com o consumo de apenas dois ou menos.

No entanto, salienta que não existe “robustez científica suficiente” para uma recomendação “clínica de vocação populacional”.

O que é um enfarte?

Beber água antes de dormir reduz o risco de enfarte

O cardiologista do Instituto Português de Oncologia do Porto Francisco Gentil esclarece que um enfarte agudo do miocárdio é a designação científica para a expressão popular “ataque cardíaco”. 

Na prática, é a morte de células do músculo cardíaco (miocárdio) devido à redução abrupta do aporte de nutrientes e de oxigénio, acrescenta.

O enfarte agudo do miocárdio é uma “verdadeira urgência clínica”, ou seja, requer uma “abordagem médica tão precoce quanto possível”, alerta José Pedro Sousa.

Nesse sentido, o doente deverá acionar a emergência médica, ligando para o 112, em vez de recorrer ao hospital pelos próprios meios.

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Os sintomas podem, por vezes, ser “enganadores”, sobretudo em idosos ou pessoas com diabetes mellitus. Contudo, o mais comum é “dor, pressão ou peso no centro do peito”. Esta dor costuma “irradiar para o braço esquerdo, pescoço e maxilar inferior”, indica.

“É frequente, neste contexto, o indivíduo sentir falta de ar, ou, pelo menos, uma aceleração dos ritmos respiratório e/ou cardíaco. Outras manifestações comuns incluem náuseas, vómitos ou sudação”, explica o cardiologista.

Se o tratamento for tardio, o enfarte agudo do miocárdio pode ter consequências “devastadoras”, incluindo a morte.

As doenças do aparelho circulatório, em que se inclui o enfarte agudo do miocárdio, são a principal causa de morte em Portugal. Os números são da Pordata, que tem dados até 2021. Nesse ano, morreram mais de 32.300 pessoas com doenças do aparelho circulatório, o que representou 26% das mortes no país.

De acordo com a Fundação Portuguesa de Cardiologia, em média, morrem por ano cerca de 10 mil portugueses devido a enfarte, enquanto 20 mil sobrevivem. Até à meia-idade morrem mais homens do que mulheres. No entanto, a partir da menopausa, o risco “aumenta muito na mulher”, acrescenta a mesma entidade.

Os doentes que sobrevivem, além de risco arrítmico aumentado, podem ter, por exemplo, cansaço e falta de ar ao fazerem esforços de “reduzida intensidade” e inchaço das pernas – uma situação clínica “convencionalmente apelidada de insuficiência cardíaca”.

Nesse sentido, além da toma dos medicamentos, estas pessoas devem adotar um estilo de vida saudável, manter uma atividade física regular e uma dieta saudável, rica em produtos vegetais e pobre em alimentos processados ou refinados. Além disso, não devem fumar, aponta o médico.

Deve haver ainda um acompanhamento médico regular em cardiologia e a integração num programa de reabilitação cardíaca.

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Por que razão acontece um enfarte?

Beber água antes de dormir reduz o risco de enfarte

Há diversos processos que levam a um enfarte. O mais comum é a desintegração de uma placa de aterosclerose, maioritariamente constituída por colesterol, pré-formada na parede das artérias coronárias. 

A erosão ou rutura da placa leva à formação de um trombo que poderá obstruir a artéria e interromper a circulação sanguínea, levando ao sofrimento do músculo cardíaco, explica o especialista consultado pelo Viral.

A placa em causa está, “muitas vezes, dependente de presença de fatores de risco”, como “obesidade, diabetes mellitus, hipertensão arterial, elevados níveis sanguíneos de colesterol LDL (popularmente catalogado como “mau” colesterol) e hábitos tabágicos”.

Questionado sobre se as pessoas saudáveis podem sofrer um enfarte agudo do miocárdio, o médico reconhece que sim, mas refere que esse cenário é “raro”. 

No entanto, o médico alerta que uma pessoa dita saudável pode, na prática, não o ser, correspondendo “apenas a alguém que não foi ainda rigorosamente investigado do ponto de vista da saúde cardiovascular”.

Em 2021, morreram mais de 32.300 pessoas devido a doenças do aparelho circulatório, segundo dados do INE.

É possível prevenir um enfarte?

Beber água antes de dormir reduz o risco de enfarte

José Pedro Sousa indica que há “numerosas ações” que permitem reduzir o risco de enfarte.

“A prevenção pode e deve ser aplicada a indivíduos saudáveis”, refere o médico, apontando para mudanças de hábitos de vida, como uma “dieta regrada”, “atividade física” e “abstinência de tabaco”

Os doentes com a placa de aterosclerose ou fatores de risco devem também fazer tratamento farmacológico, aponta o cardiologista.

Na mesma linha, o médico salienta que, em caso de enfarte, uma pessoa que receba um tratamento precoce ou tenha exercido medidas preventivas pode ter consequências menos graves.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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Categorias:

Cardiologia

Etiquetas:

Produtos naturais

24 Ago 2023 - 10:28

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